04 setembro 2005

I miss the comfort in being sad...

Resenhas de discos

IN UTERO (NIRVANA)

Quando foi lançado, em setembro de 1993, In Utero surpreendeu a todos. O disco era uma maneira do Nirvana provar que poderia fazer um trabalho sujo e anticomercial. Para quem esperava outro Nevermind, com canções com um grunge mais acessível, ficou perplexo com o resultado. Guitarras distorcidas, letras agressivas abordando temáticas polêmicas, sonoridade crua e nenhuma música mais pop.
Mas nada disso impediu In Utero de ser um álbum fenomenal. Pelo contrário, é por esse motivo que ele é sensacional. Eu, pessoalmente, prefiro ele do que o Nevermind. As músicas falam por si mesmas. “Serve The Servants” abre muito bem o LP, destacando-se os versos quase auto-biográficos (como “I tried hard to have a father/But still I had a dad”). “Scentless Apprentice” é um Rock furioso. “Heart-Shaped Box” é uma das mais famosas, talvez porque siga a fórmula “pancada melódica” tão presente no disco de 1991. “Rape me” fala sobre um estuprador que paga pelos seus crimes. “Francês Farmer Will Have Revenge On Seattle” é uma das melhores, com sua melodia perfeita. “Dumb” fala sobre drogas, e é a mais bonita e calma faixa.
“Very Ape” critica o machismo, e junto com “Milk It” e "Radio Friendly Unit Shifter", forma um trio de canções pesadas e sujas (cheias de chios de guitarras e microfonias). Temos ainda a analogia ao aborto na fantástica “Pennyroyal Tea”, a gritaria de “Tourette’s” (que se refere à síndrome de Tourette, que ocorre quando a pessoa grita e xinga “do nada” e com freqüência) e o impagável réquiem “All Apologies”. Quando você pensou que o disco tinha acabo, após 16 minutos começa a tocar a (quase) escondida faixa chamada “Gallons Of Rubbing Alcohol Flow Through The Strip”, que, segundo Kurt, era um incentivo à compra de dólares desvalorizados.
Gravado em apenas duas semanas, In Utero mostra que, definitivamente, o Nirvana foi a mais importante banda dos anos 90, ao desafiar o próprio mercado quando conseguiram a fama. Steve Albini foi um bom produtor, e conseguiu parte do resultado desejado pelo trio. Ainda assim, percebe-se que esse é um disco quase premonitório, ao mostrar a tristeza e o sofrimento de Kurt Cobain, que resultariam mais tarde na sua morte trágica. Se você é mais um que acha que o Nirvana é apenas outra boa banda de Rock da década de 1990, ouça In Utero e mude de idéia.

A banda: Kurt Cobain (vocal, guitarra), Krist Novoselic (baixo) e Dave Grohl (bateria, backing vocal).

Cotação: 9,5/10

02 setembro 2005

Preciso de voluntários

Faz onze dias que eu não atualizo o blog. O porquê? Falta de discos para avaliar. Claro que eu poderia avaliar a discografia completa dos Beatles ou de outras das minhas bandas top 10, mas chega de repetir bandas. Preciso de voluntários para publicar resenhas de discos. Qualquer tipo de Rock vale.

21 agosto 2005

Rock In Sopa - impressões finais

Especial

ROCK IN SOPA – IMPRESSÕES FINAIS

O Rock In Sopa foi o primeiro evento de Rock que eu fui. Já era hora de eu ir a um, para deixar de ser um “roqueiro de MP3”. Motivos não faltaram. Vários alunos do meu colégio iriam lá; o ingresso estava bem barato (6 reais); muitas bandas (15 ao total); oito horas de shows sem parar; oportunidade de conhecer várias bandas alternativas, com os estilos mais variados, do Pop Rock ao Heavy Metal.
Eu cheguei lá às 18h10, desesperado por pensar que estaria atrasado (já que tinha sido anunciado que começaria às 18 horas), mas aconteceu o que era mais provável – atrasou. Para a minha sorte, é claro. Só começou às 19h50. Nesse tempo, chegaram alguns colegas, e o tédio e solidão dos primeiros minutos, quando o Martin Cererê estava quase vazio, passou rápido. Eu pensei que mais gente do Colégio Classe viria, mas vários vieram, para me provar que a escola não é feita só de fãs do Babado Novo, Ivete Sangalo, chicleteiros ou pseudo-roqueiros.
Eu fiquei até às 2h30. Minha mãe, como eu esperava, ficou superpreocupada, achando que eu ia me envolver com maconheiros, ser assaltado ou coisa do gênero. Ledo engano. De drogas lá, só achei cigarro e álcool (cerveja e vodka). Não tomei, é claro, fiquei só na Coca Cola. Não é por caretice não – é que eu tenho uma espécie de prazer em ficar completamente são, em ter pleno domínio dos meus sentidos, enquanto todos se acabam na cerveja ou no tabaco. Acho que eu me sinto... um super-homem (parafraseando Nietzsche...).
Agora, sobre os shows. Dos 15, eu fiquei até a hora do décimo segundo. Não acompanhei todos, por falta de interesse no som de alguns (o Cruznorff, por exemplo, tocava Rock com música eletrônica... não é a minha praia). Vou citar os seis melhores:

- Packtus: abriu o Rock In Sopa. O som era mais limpo, misturando Pop Rock com Gothic Metal. A galera adorou, principalmente na música “60 Segundos” (muito boa, por sinal) e nos covers “Máscara” (Pitty) e “Bring Me To Life” (Evanescense).

- Flores Indecentes: bons refrões, boas performances nos instrumentos e nos vocais. Também empolgou o público com suas canções de Rock mais pesado.

- Downers: pelo que eu ouvi, era meio Rock Progressivo. O ponto alto do show foi o cover de “Comfortably Numb” (Pink Floyd), que levou o público à loucura. Os fãs do Pink Floyd até invadiram o palco e dividiram os vocais!

- Grieve: me surpreendeu. Nunca curti muito Heavy Metal, mas gostei demais do som deles. Canções bem pesadas e animadas, do tipo que o ouvinte quase torce o pescoço de tanto balançar o pescoço.

- Rústica: talvez foram eles a melhor apresentação do Rock In Sopa. Seguindo um Rock mais pop e acessível, mas não menos viciante, tiveram carisma e competência suficientes para dominar a platéia. Curti tanto as músicas próprias quanto a regravação “O Calibre” (Paralamas do Sucesso).

- Lake: grunge na veia. Quem curtia um Rock mais sujo e grudento adorou. Guitarras distorcidas, bateria pulsante e bons vocais. Dancei que nem louco. Os roqueiros mais exaltados (entenda bêbados) até fizeram aquele empurra-empurra, típico de shows de Rock (influência dos lendários Sex Pistols...).

Já estou a postos para o próximo evento de Rock alternativo que houver em Goiânia.
Adeus, Rock mainstream!

13 agosto 2005

Got me a movie, I want you to know...

Resenhas de discos

DOOLITTLE (PIXIES)

Se Surfer Rosa (1988) já era sensacional com sua loucura e gritaria, Doolittle, lançado em 1989, mantém a alta qualidade do Pixies. A banda já era conhecida desde o ano anterior devido aos elogios das revistas especializadas em música e da popularidade que possuía no underground americano. Agora, conquistava um lugar fixo entre as melhores bandas da década, ao fazer um disco que influenciou tudo que soasse alternativo dali pra frente.
Várias faixas se destacam. Vou citar as dez mais: "Debaser", a melhor de todas, tem bom humor e melodia contagiante; "Tame" segue o estilo do Rock alternativo, com experimentalismos e fúria; "Wave Of Mutilation" fala sobre violência em seus 2 minutos e pouco; "I Bleed", com seu sarcasmo; "Here Comes Your Man" é o único grande hit do Pixies, devido ao refrão e ritmo grudentos; "Dead" é um autêntico Rock pauleira; "Monkey Gone To Heaven" tem uma letra sombria e arranjo impecável; "La La Love You" é cantada pelo baterista da banda, e é uma das mais divertidas; "There Goes My Gun" tem como ponto mais forte os belos backing vocals de Kim Deal; "Hey" é mais sisuda, e é um dos melhores momentos do CD; e "Gouge Away" é outra canção mais, digamos, pessimista.
Sério, triste e engraçado. Só mesmo o quarteto de Boston para reunir essas três características no mesmo álbum. Com esse disco, o Pixies amadureceu em vários aspectos, e cometeu sua segunda obra-prima. Talvez seja impossível dizer quem é realmente melhor: Surfer Rosa ou Doolittle (eu, pessoalmente, prefiro o primeiro... hehe). Não é à toa que eles influenciaram o Nirvana e roubaram a cena do U2 em uma turnê...


Se você quiser baixar a música Debaser pelo Rapidshare, é só clicar aqui.
Clique aqui para baixar um arquivo com todas as letras das faixas do disco Doolittle.

A banda:
Black Francis (vocal, guitarra), Kim Deal (baixo, vocal), David Lotering (bateria) e Joey Santiago (guitarra).

Cotação: 9/10

12 agosto 2005

Disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza...

Resenhas de discos

AS QUATRO ESTAÇÕES (LEGIÃO URBANA)

A Legião Urbana é apreciada por 10 em cada 10 brasileiros que tem um gosto musical decente. Quem é fã do conjunto não se importa se Renato Russo era pretensioso, se eles não tinham boa técnica para tocar ou qualquer outro defeito que quem não gosta deles (uma minoria, é claro) levante. Com belas letras, melodias memoráveis e vocais magníficos, a banda brasiliense será eternamente lembrada como um dos maiores expoentes do Rock nacional.
E, em 1989, eles lançaram As Quatro Estações, o álbum de maior sucesso de vendas e de crítica. Mas isso não é surpreendente, pois é nele que estão boa parte dos maiores clássicos da banda! A Legião entrou em uma fase mais madura, e as composições de Renato Russo, que já eram incríveis, conseguiram ficar ainda melhores. Nem a saída de Renato Rocha, baixista até 88, afetou o trabalho do trio remanescente.
No álbum, temos as reflexões de “Há Tempos” e “Eu era um lobisomem juvenil”, os versos inesquecíveis da famosa “Pais e Filhos”, o Rock politizado de “1965 – Duas Tribos”, a simpática “Meninos e Meninas” e a revelação de Renato sobre sua sexualidade – que, aliás, também foi abordada em “Maurício”. O amor e a solidão são o tema de “Se fiquei esperando meu amor passar”.
A religião é trabalhada em outros dois hinos, “Quando o sol bater na janela do teu quarto” e sua linda letra, e “Monte Castelo”, que até parafraseia Camões. “Sete cidades” é uma típica canção da Legião, e tem até uma gaita na introdução! “Feedback song for a dying friend” é uma faixa em inglês que, provavelmente, fala sobre Cazuza e o seu sofrimento com a AIDS.
Se eu tivesse que dar quatro discos fundamentais da Legião Urbana, eles seriam: o V (91), o Dois (86), o Legião Urbana (85) e o As Quatro Estações (89). E não duvide que ele faz jus aos elogios. Escute suas onze faixas e comprove!

A banda: Renato Russo (vocal, baixo, violão, teclados), Dado Villa-Lobos (guitarra, baixo) e Marcelo Bonfá (bateria, percussão).

Cotação: 9/10

10 agosto 2005

Hey God! Tell me what the hell is going on...

Resenhas de discos

THESE DAYS (BON JOVI)

Bon Jovi já não é mais o mesmo. Se nos anos 80, eles eram uma ótima banda de Hard Rock, hoje são apenas uma banda de pop comercialóide. Talvez porque a banda sempre buscou o mainstream e faz o possível para manter-se nele. Mas essa atitude tão “vendida” pode ser perdoada pelos bons trabalhos que ele e sua banda fizeram até metade dos anos 90.
O último disco realmente de qualidade de Bon Jovi foi lançado em 1995, e atende pelo nome de These Days. Nele, ocorre a despedida (em grande estilo) do Rock. As melhores músicas são justamente as primeiras faixas. “Hey God” é um rockão de primeira, e nos lembra da primeira fase da banda. “Something for the pain” é uma canção bacana, com um bom riff de guitarra. “This ain’t a love song” é romantismo total, e uma das melhores baladas de Jon Bon Jovi. “These days”, a faixa-título, é muito boa, inesquecível para os fãs do conjunto. “Lie to me” é baseada em um relacionamento amoroso do vocalista. Mais pra frente, temos outro bom Rock, “Damned”, além da desplugada “Diamond Ring”, o pop perfeito de “If That What It Takes” e a agressividade de “All I Want Is Everything”.
O fato de 10 das 14 músicas merecerem destaque (algumas mais que as outras – acho que dessas, umas seis são excelentes) prova que este é o álbum mais equilibrado da banda, e por isso, é (na minha opinião) o melhor. Depois dele, houve um hiato de cinco anos, até ser lançado Crush (cuja única música boa é "It's My Life"), depois, em 2002, o Bounce (ficou legal, mas tem muitas baladas!) e, dois anos atrás, o passável This Left Feels Right (só regravações acústicas!). Mas o último álbum arrasa-quarteirões do Bon Jovi é These Days. Ouça se for fã; se não for, também ouça, pois há grandes de você virar um.

A banda (em 1995): Jon Bon Jovi (vocal, baixo, violão), Ritchie Sambora (guitarra, backing vocal), Tico Torres (bateria) e David Bryan (teclados).

Cotação: 9/10

07 agosto 2005

Woo-hoo! When I feel heavy metal...

Resenhas de discos

THE BEST OF BLUR (BLUR)

Todos sabem o quanto é difícil analisar uma coletânea. O crítico pode ser rigoroso deamis caso ela seja um caça-níqueis ou esqueça alguma música boa. Ou pode ser benevolente em excesso por ser uma reunião das melhores músicas de uma banda. No caso deste The Best of Blur, eu entro no segundo caso. Até porque o repertório da banda em questão é impecável.
O Blur pode não ser muito conhecido fora da Inglaterra, mas lá na terra da Rainha, eles são tão populares quanto o Oasis. Aliás, há uma rivalidade entre ambas bandas. Mas convenhamos – a banda dos arrogantes irmãos Gallagher não é lá muito boa, pois peca na originalidade (são um plágio dos Beatles e dos Stones) e a maior parte de suas músicas enjoa rápido. Já o conjunto capitaneado por Damon Albarn é menos egocêntrico, humilha em criatividade e é bem mais simpático. A prova disso está nas dezoito faixas compiladas nesse disco.
Para falar a verdade, o álbum inteiro é bom, mas vamos separar alguns destaques: temos “Beetlebum”, cujos pontos fortes são o riff de guitarra e os vocais de Damon; “Song 2” é marcada pelo insano refrão Woo-hoo e pelo som contagiante, e além disso, é a mais famosa do Blur, e já foi até trilha sonora de games e filmes; “There’s No Other Way” é uma bacana canção pop; “The Universal” e “End Of A Century” são belas baladas; "No Distance Left To Run" é a mais triste de todas, perfeita para ouvir após o fim de um relacionamento; “Girls And Boys” é uma dançante música eletrônica; “Coffee And TV” é uma faixa romântica na medida certa (especialidade do Blur); “Parklife” é uma das obras-primas da banda, e alegra o dia de qualquer um; “Music Is My Radar” é experimental e louca; e “On Your Own” é alegre e melodicamente sensacional.
Se você quer ouvir o melhor do britpop dos anos 90, não deixe de escutar as faixas do Blur. Radiohead e Oasis podem ser mais populares aqui no Brasil, mas, pelo menos para mim, quem realmente manda quando o assunto é no Pop Rock britânico atual é o quarteto londrino. Para quem não sabe, Coxon já lançou seu álbum solo e Albarn é o criador e vocalista do Gorillaz.

Clique aqui para baixar a música Song 2 pelo Rapidshare.

A banda: Damon Albarn (vocal, violão, teclados), Graham Coxon (guitarra), Alex James (baixo) e Dave Rowntree (bateria).

Cotação: 9/10

06 agosto 2005

Help me if you can, I'm feeling down...

Resenhas de discos

HELP! (THE BEATLES)

Hoje, 6 de Agosto, foram comemorados os quarenta anos de Help!, o quinto álbum dos Beatles. Talvez seja esse o melhor disco da primeira fase do quarteto britânico. Na época em que foi lançado, já havia uma unanimidade quanto aos Beatles, inatingíveis no som e na imagem. O filme Help! veio reforçar isso. Com um roteiro simples e passagens engraçadas, a película é um dos retratos da beatlemania: alegre e cheia de composições memoráveis. O LP homônimo é recheado de alguns desses clássicos.
A começar pela faixa-título, que é uma das mais populares músicas do Fab-Four. “The Night Before” é uma criativa canção de Paul, que também é o responsável pela acústica “I’ve Just Seen A Face” e a famosíssima “Yesterday”. George mostra que é um bom guitarrista, e inova com “I Need You”.
John Lennon fez outras faixas que se sobressaem, como “You’ve Got To Hide Your Love Away” e sua bela letra, a inesquecível “Ticket To Ride”, a despretensiosa “It’s Only Love” e a balada “You’re Going To Lose That Girl”.
Em 1965, os Beatles já estavam cansados da rotina desgastante das turnês. Mas conseguiram achar tempo para provar que, de qualquer jeito, eram impecáveis em seus discos. Já fica claro que o som deles está evoluindo em Help!, e nos álbuns seguintes eles, gradativamente, abandonariam o Pop e experimentariam novas sonoridades. Mas foi aqui que eles começaram a se desgarrar do rótulo da beatlemania e da histeria das fãs. Recomendável para todos os tipos de roqueiros.

Clique aqui para baixar a música Help! pelo Rapidshare.

A banda: John Lennon (vocal, guitarra), Paul McCartney (vocal, baixo), George Harrison (guitarra, vocal) e Ringo Starr (bateria)

Cotação: 9/10

05 agosto 2005

Homem primata, capitalismo selvagem...

Resenhas de discos

CABEÇA DINOSSAURO (TITÃS)

O que esperar de uma banda cujo maior hit até o momento era “Sonífera Ilha”? O primeiro disco da banda era mediano, e faixas que viraram clássicos posteriormente (com as versões ao vivo, em 1988), como “Marvin” e “Go Back”, não tinham bons arranjos. Já o segundo LP era razoável, e contava com as ótimas “Autonomia”, “Televisão” e “Massacre”. Mas o octeto (!) paulista parecia ter potencial para fazer mais do que aquilo. A resposta foi Cabeça Dinossauro.
Esse álbum é tão incrível e influente que ele provou, definitivamente, que os brasileiros sabiam fazer Rock dos bons. Claro que antes dele vieram os Secos e Molhados e os Mutantes, duas bandas sensacionais, e a Legião Urbana e o RPM se deram bem com suas estréias no ano anterior. Mas foi realmente em julho de 1986 que o Brasil provou a sua capacidade roqueira.
O terceiro LP dos Titãs é aberto pela faixa-título. É uma canção pesada, um bate-estaca com versos que parecem um ritual indígena (e, por incrível que pareça, são mesmo – rito dos xingus contra os maus espíritos). Em seguida, temos a divertida “AA UU”, que divaga sobre o cotidiano patético dos jovens. “Igreja” é a mais polêmica de todas, com sua letra que soa como um hino dos ateus por trás de um Rock irado. “Polícia” ataca outra instituição, e mantém em progresso a fúria do álbum. “Estado Violência” é uma das mais sérias e bem-feitas. “A Face do Destruidor” é um Hardcore de quarenta segundos que reflete sobre a cultura da destruição.
“Porrada” já se entrega no título: a banda clama pelo uso da violência contra os grupos sociais famigerados, como os políticos e os advogados. “Tô Cansado” é uma triste, porém agressiva música sobre o tédio da juventude. “Bichos Escrotos”, com seu bom humor, seu peso e sua escatologia, foi até censurada na época. “Família”, apesar de mais calma e pop, também pega pesado na letra. “Homem Primata” critica a sociedade capitalista e a irracionalidade do ser humano. “Dívidas” tem seu ponto forte nos versos, ao contrário de “O quê”, que conta com um ritmo alucinante e dançante.
Se, atualmente, os Titãs já não são aquela coisa, antigamente os caras eram a melhor banda de Rock que havia no Brasil. Ouça Cabeça Dinossauro, e veja as raízes Punk do conjunto.


A banda (em 1986): Paulo Miklos (vocal), Nando Reis (vocal, baixo), Arnaldo Antunes (vocal), Sérgio Britto (vocal, teclados), Branco Mello (vocal), Charles Gavin (bateria), Marcelo Fromer (guitarra) e Tony Bellotto (guitarra).

Cotação: 9,5/10

03 agosto 2005

Come on baby, light my fire...

Especial

THE DOORS
1967 foi um ano mágico para o Rock. Os Beatles lançam Sgt. Pepper’s, o melhor disco de Rock da história; o Pink Floyd debuta com o ótimo Piper Gates At Dawn; o Velvet Underground lança seu excelente álbum homônimo; Jimi Hendrix e Janis Joplin, entre outros roqueiros, ganham fama em festivais como o de Monterrey e novas vertentes se consolidam: o Rock psicodélico e o Progressivo. Mas esse ano também foi marcado pelo primeiro álbum de estúdio de um conjunto estadunidense: The Doors.
O nome é baseado em uma obra de Aldous Huxley, “The doors of perception” (As portas da percepção). Com influências do blues e jazz, o
quarteto era formado pelo vocalista e baixista Jim Morrison, o tecladista Ray Manzarek, o guitarrista Robby Krieger e o baterista John Densmore. Tudo começou quando, em 65, na UCLA (conceituada universidade de cinema dos EUA), Morrison e Manzarek se conheceram. Com gostos musicais semelhantes, eles resolveram montar uma banda. Uniram-se à dupla Densmore e Krieger.
Indicados pelo músico Artur Lee, eles gravaram seu primeiro LP na gravadora Elektra. Lançado em Janeiro de 1967, ele demorou alguns meses para fazer sucesso, mas quando o fez, a banda estourou nos Estados Unidos. O single “Light My Fire” (a mais famosa canção do conjunto) estourou nas paradas. Outras músicas fizeram sucesso, como “Break On Through” (com influências da bossa nova), “Alabama Song” e “The End” (que dura quase 12 minutos e tem uma letra pesada, que fala até de complexo de Édipo, e mostra que Jim estava sob efeito de alucinógenos quando a compôs).
Com fama e dinheiro, eles mantiveram a boa qualidade do trabalho em Strange Days. Destaque para “When The Music Is Over” (outra faixa de mais de 10 minutos), “Love Me Two Times”, “People Are Strange” e a faixa-título. A banda era conhecida pelo caos de suas apresentações. Tanto que Jim Morrison chegou a ser preso em uma delas, por desacato à autoridade (no caso, um policial). Polêmico, o líder e letrista do Doors abusava na bebida e nas drogas, e era símbolo sexual, o que o irritava profundamente, pois sua imagem era mais veiculada do que o som da banda. Em 68, eles continuaram no topo das paradas com o LP Waiting For The Sun, que, além da boa “Five To One”, contava com dois dos maiores clássicos do conjunto: “Hello, I Love You” (uma música mais pop do Doors) e “The Unknown Soldier” (banida das rádios americanas por criticar a Guerra do Vietnã).
O ano seguinte não foi dos melhores pra banda. O álbum The Soft Parade foi um fracasso. Talvez porque foi muito pretensioso e soberbo. Ainda assim, é dele a boa faixa “Touch Me”. Muitos consideram que o pior momento do Doors foi o show que ocorreu em 01/03/69 no Madison Square Garden, que estava superlotado. Para piorar, Jim estava bêbado, e brigava coma platéia freqüentemente. Até que após ele novamente ofendê-la e ameaçar mostrar seu órgão sexual, o palco foi invadido. O tumulto era geral, e só foi controlado com a ação da polícia. O vocalista do conjunto foi preso por sete meses.
A banda, mesmo em crise, se reergueu em 1970 com Morrison Hotel, marcado pelas ótimas músicas “Roadhouse Blues” (com seu famoso riff de guitarra), “You Make Me Real” e “Waiting For The Sun” (sobra do álbum homônimo). Em meio às disputas internas, e Jim Morrison cada vez mais revoltado com a condição de astro de Rock, foi lançado em dezembro do mesmo ano o que viria a ser o derradeiro disco da banda, L.A. Woman. A faixa-título, “Love Her Madly” e, principalmente, “Riders On The Storm” são os pontos altos do LP.
Em março de 71, com o Doors em frangalhos, Jim e sua esposa, Pamela Courson, se mandam para a França, fugindo da fama (afinal, todos sabiam que “buscar inspiração” não passava de um eufemismo). Em meio ao uso descontrolado de bebidas e drogas, Morrison acabou falecendo em 3 de Julho de 1971, quando foi encontrado morto em sua banheira. Provavelmente, por overdose de heroína. Mas nunca saberemos a verdade, pois Pamela nunca falou sobre o assunto e morreu três anos depois, e também porque não foi feita uma autópsia nele.
Morto prematuramente, um dos maiores poetas do Rock deixou o seu legado. The Doors expressava a fúria e o caos da juventude da época, e os excessos da mesma foram refletidos pelo próprio fim trágico do líder do conjunto. Os outros integrantes tentaram, sem sucesso, continuar com a banda, mas logo desistiram. Ou não. Dois anos atrás, Ray Manzarek e Robby Krieger criaram o Doors of the 21st century, que pretende trazer os clássicos da banda às novas gerações (e dinheiro para o bolso dos ex-integrantes, hehe), e tem como vocalista Ian Astbury, ex-The Cult, Angelo Barbera no baixo e o baterista Stewart Copland, ex-The Police. O ex-baterista da banda, John Dansmore, resolveu acabar com a festa, e entrou na Justiça tentando impedir que eles tivessem o nome Doors. Ele conseguiiu, e além disso, terá parte nos lucros da última turnê do projeto. Polêmicas à parte, The Doors foi uma das maiores bandas de Rock de todos os tempos, e merece a fama que acumulou nos últimos 38 anos.


Discografia original (excluindo coletâneas, sobras de estúdio e discos ao vivo lançados posteriormente):
- The Doors (1967) - cotação: 9/10
- Strange Days (1967) - cotação: 9/10
- Waiting For The Sun (1968) – cotação: 8,5/10
-
The Soft Parade (1969) – cotação: 5,5/10
-
Morrison Hotel (1970) – cotação: 8,5/10
- L.A. Woman (1970) – cotação: 8/10

31 julho 2005

Your bones got a little machine...

Resenhas de discos
SURFER ROSA (PIXIES)



O Pixies é um das mais criativas bandas dos anos 80. Suas letras divertidas, os vocais lesados de Black Francis, o backing vocal sexy e a boa performance no baixo de Kim Deal somados à bateria arrasadora de David Lovering e a guitarra detonante de Joey Santiago fizeram do quarteto oriundo de Boston uma grande influência para o rock.

Eles estrearam com o EP ‘Come On Pilgrim’, mas o primeiro álbum foi ‘Surfer Rosa’, 1988. Até a ruptura devido a diferença dos interesses criativos entre Frank Black e Kim Deal, que ocorreu em 1992, o Pixies era uma banda bastante cultuada no cenário alternativo. Com quatro álbuns lançados estava em franca ascensão: abria parte dos shows americanos para o U2, vendia muito no outro lado do Atlântico (o selo que os revelou ao mundo foi o britânico 4AD), recebia elogios de artistas como David Bowie e Billy Corgan e posava de modelo para Kurt Cobain – que declarou ter composto “Smells Like Teen Spirit” procurando o “pop perfeito” do grupo formado na cidade de Boston.

Mesmo depois da separação a banda continuou sendo conhecida e idolatrada.  Kim Deal foi a única que conseguiu alguma projeção em carreira solo - à frente do Breeders, grupo que fez enorme sucesso em 1993 com o álbum Last Splash e o hit “Cannonball”.

O retorno do grupo em 2004, doze anos após a separação, fez a alegria dos fãs. Os duendes fizeram até show no Brasil deixando o Curitiba Rock Festival lotado. Sempre atuais e mais jovens do que nunca eles arrebatam novos admiradores a cada dia. Se você ainda não conhece ouça Surfer Rosa.
O disco é maravilhoso em todos os aspectos - da bela capa ao repertório, que ainda soa atual, mesmo 17 anos depois.  A pancada sonora surpreende e vicia o ouvinte, que dificilmente consegue esquecer as músicas o que, aliás, é um fato comum a toda a discografia do Pixies.
 A primeira canção, ‘Bone Machine’, figura entre o que considero as melhores músicas de todos os tempos e é a mais viciante das treze. Várias outras faixas se destacam, como ‘Oh My Golly’ e ‘Broken Face’, com seus versos malucos e a histeria nos vocais. ‘River Euphrates’ é uma das mais simpáticas (destaque para o backing vocal de Kim); ‘Brick Is Red’ possui uma melodia inesquecível. ‘Where Is My Mind?’ é a mais famosa (foi incluída na trilha sonora do filme Clube da Luta). ‘Gigantic’, única composição de Kim Deal, é a mais pop do disco. A canção ‘Vamos’ se destaca pela gritaria de Francis e os solos de Joey.
Os Pixies voltariam a repetir a dose com sua outra obra-prima ‘Doolittle’ e os ótimos ‘Bossanova’ e ‘Trompe Le Monde’. Mas, provavelmente, a sua melhor gravação foi o ‘Surfer Rosa’. Ouça-o no volume máximo, da primeira à última faixa. Aliás, a edição gringa do disco contém como bônus as oito faixas do EP ‘Come On Pilgrim’ - imperdível. Você finalmente vai entender o porquê de tanta idolatria a esse quarteto que tanto contribuiu para o Indie Rock. Que o digam Placebo, Nirvana, Radiohead, Strokes e Pearl Jam todos influenciados por eles.

- Ouça Bone Machine: é só clicar aqui para baixá-la pelo Rapidshare! (Qualidade: 160 kbits por segundo)
- Ouça Where Is My Mind: é só clicar aqui para baixá-la pelo Rapidshare! (Qualidade: 192 kbits por segundo)

A banda: Black Francis (vocal, guitarra), Kim Deal (baixo, vocal), David Lovering (bateria) e Joey Santiago (guitarra).

(5/6/12: Versão atualizada dessa matéria, contendo as modificações feitas para a publicação na edição de Outubro/2005 do Correio Classe)



Cotação: 9,5/10

29 julho 2005

It's been a hard day's night...

Resenhas de discos

A HARD DAY'S NIGHT (THE BEATLES)
Quando lançaram em outubro de 1962 seu primeiro single (“Love me do”), os Beatles jamais imaginariam que, em julho de 1964, apenas 21 meses depois, já seriam a maior banda de Rock do planeta. Pois foi nesse mês que eles lançaram o disco que provou isso. A Hard Day’s Night foi um projeto ambicioso para provar que aqueles quatro cabeludos que, no início de 64, dominaram os EUA, vieram para ficar. Gravaram um filme que misturava ficção com realidade, e mostrava 48 horas do cotidiano dos Beatles, assim como também lançaram um LP contendo as sete músicas da trilha sonora do longa metragem e mais seis faixas inéditas. Não podia dar errado. E não deu. Sucesso absoluto, que provou que o quarteto de Liverpool era realmente uma grande banda, tanto em termos de música quanto em imagem.
O álbum é aberto pela vibrante “A Hard Day’s Night”, uma canção baseada numa frase de Ringo (“É uma noite de um dia árduo”), e reflete o ritmo alucinante de trabalho da banda. “I should have known better” é simpatica, e funciona (muito) bem como baladinha. “If I feel” é uma das mais belas do disco, e antecede a única faixa cantada por Harrison, “I’m happy just to dance with you” (lembrando que TODAS as treze músicas foram compostas pela dupla Lennon e McCartney). A linda “And I love her” prova o talento de Paul para composições de temática romântica. “Tell me why” é despretensiosa. “Can’t buy me love”, single lançado alguns meses antes, foi sucesso mundial com sua melodia e letra contagiantes.
“Any time at all” e “I’ll cry instead” são duas canções que, apesar de boas, não se destacam. “Things we said today” foi lado B do compacto da faixa-título, mas não merecia ser ofuscada – é uma das mais interessantes do disco. “When I get home” e “You can’t do that”, mesmo não tendo sido músicas de trabalho, são bem legais. Fechando A Hard Day’s Night, temos a temática (já trabalhada em outras trilhas do LP) de saudades de casa sendo trabalhada por “I’ll be back”.
As fãs histéricas, a aclamação da crítica e os recordes de vendagem obtidos pelo fab-four não foram à toa. John, Paul, George e Ringo tinham talento, e o fato de serem pop e comerciais não atrapalhou em nada a qualidade do trabalho deles. Após o terceiro disco, provavelmente a fase mais alegre da beatlemania, eles começaram a se cansar das turnês e reclamaram disso em Beatles For Sale e Help!. Mas esses (e outros) álbuns são assuntos para outras resenhas. Por enquanto, curta a criatividade de A Hard Day’s Night.

Ouça A Hard Day's Night: é só clicar aqui e baixá-la pelo Rapidshare! (Qualidade: 192 kbits por segundo)
Obs.: O Rapidshare só aceita um download a cada 60 minutos. A não ser que você tenha o login e a senha da versão Premium (caso tenha, POR FAVOR, ME PASSE!).

A banda: John Lennon (vocal, guitarra), Paul McCartney (vocal, baixo), George Harrison (guitarra) e Ringo Starr (bateria).


Cotação: 8,5/10

28 julho 2005

Find me and follow me...

Chegou o fórum do White Riot!
O endereço é http://www.whiteriot.rg3.net
Lá você pode debater sobre Rock (são 6 espaços sobre Rock, cobrindo as principais vertentes), livros, televisão, games ou mesmo falar qualquer porcaria na seção "Conversa fiada".
Convido todos que estiverem lendo para visitá-lo e indicá-lo para outras pessoas.

26 julho 2005

And she's buying a stairway to heaven...

Resenhas de discos
LED ZEPPELIN IV (LED ZEPPELIN)

Eu já admirava o trabalho do Led Zeppelin há alguns meses. Até tinha gravado uma coletânea de dois CDs cobrindo as trinta músicas deles que eu mais gostava. Mas faltavam duas coisas para eu ser um fã de verdade (claro, desconsiderando ir a um show, até porque fazem 25 anos que a banda terminou): comprar uma camiseta (já a adquiri, ela representa a capa do LP Physical Graffiti) e pelo menos um CD original. Bem, eu queria o “Houses of the Holy”, meu álbum favorito do quarteto britânico. Não estando ele disponível na loja, optei pelo meu 2º preferido: o Led IV.
Esse disco foi o divisor de águas na carreira da banda, tamanha a sua importância. Após três anos tocando, eles precisavam se eternizar na história do Rock. E conseguiram com esse álbum. Ele tinha tudo para dar errado: o Led Zeppelin era odiado pelos críticos, o último LP deles não fizera tanto sucesso e o disco não indicava nem o nome do conjunto, nem o título dele – apenas tinha a foto de um velhinho. Page acreditava que os fãs não deixariam de comprar por causa disso. Todos que duvidavam disso (incluindo a gravadora) quebraram a cara com o bom desempenho do mesmo: 21 milhões de cópias vendidas do mundo inteiro e a consagração do Led em âmbito mundial.
Led Zeppelin IV, ou Zoso para os íntimos, consegue se superar a cada audição. A primeira faixa, “Black Dog”, já prova o potencial do quarto trabalho de estúdio dele: é uma canção poderosa, e quase um sinônimo de Led Zeppelin. “Rock and Roll” já se entrega no título – é um verdadeiro hino de fidelidade ao Rock. Passou a ser a música de abertura de todos os shows da banda. Em seguida, veio a prova da busca deles por novas sonoridades (e a confirmação de que eles liam muito O Senhor dos Anéis... hehe) – “The Battle of Evermore”. Mas o petardo do disco ainda estaria por vir: “Stairway to Heaven”. Ela é tão boa que não foram por acaso os vários prêmios que recebeu como melhor música de todos os tempos ou o fato de ser a faixa mais tocada nas rádios da história. Ela também É conhecida como a canção-síntese deles, pois começa calma e folk, e gradativamente vai virando um Rock pesado. Quando a compuseram, Jimmy e Robert já sabiam que aquela seria a canção pela qual eles seriam lembrados pela eternidade (tanto que foi a única letra do disco publicada no encarte), e eles não erraram em suas pretensões.
O lado B de Zoso (esse nome se deve aos símbolos presentes no LP, que formavam a palavra ZOSO) foi praticamente ignorado pelo público depois de um lado A tão perfeito. Mas isso seria um erro imperdoável, e os que ouviram o mesmo sabem disso. “Misty Mountain Hop” é outra canção bem exótica, e apesar de estranhar o ouvinte na primeira vez, é muito boa. “Four Sticks” também é sincera ao nome: Bonham usou quatro baquetas para toca-la! “Going to California” é a mais calma e romântica das oito músicas do álbum, com belos vocais de Plant. A oitava faixa, “When the levee breaks”, é outro grande momento de Led IV, pois a banda mostra o melhor de sua técnica aqui. Jonesy detonou no baixo, Page arrasou na guitarra, Bonzo foi impecável na bateria e Robert cantou muito bem.
Quando se termina de ouvir Led Zeppelin IV, parece que você nunca mais será o mesmo. O disco causa um grande impacto, de tão bom que é. Os quatro membros do conjunto provaram que sabiam fazer um som variado, indo do Hard Rock ao lírico e erudito. O baixista do Led até brincou:
“Ninguém nunca mais nos comparou ao Black Sabbath depois deste álbum”. Ouça se quiser conhecer uma obra-prima do Rock e descobrir o motivo de tanta adoração ao Led Zeppelin.

Ouça Stairway to Heaven: é só clicar aqui para baixá-la pelo Rapidshare! (Qualidade: 160 kbits por segundo)

A banda: Jimmy Page (guitarra), Robert Plant (vocal), John Paul Jones (baixo, teclados) e John Bonham (bateria)

Cotação: 9,5/10

25 julho 2005

You know you're right...

Resenhas de discos

NIRVANA (NIRVANA)

Não sei quanto a você que está lendo essa resenha, mas, na minha opinião, a melhor banda dos anos 90 foi o Nirvana. Afinal, o trio de Seattle revolucionou o Rock, que há muito tempo não dava mostras de novidades. O cenário estava dominado por bandas que se preocupavam mais com quantidade do que qualidade. Inspirados pela criatividade de bandas alternativas da década de 80, como o Pixies e o Sonic Youth, o Nirvana estourou em 1991 com Nevermind, mas já fazia um som bacana desde a estréia dois anos antes em Bleach, e continuou excelente com os discos Incesticide e In Utero, até a morte de Kurt, em 1994.
Em 2002, foi lançada a coletânea da banda. Os fãs queriam mesmo era a caixa de CDs cheia de inéditas (que só viria a ser lançada no ano passado), mas a controversa ex-esposa de Cobain, Courtney Love, só liberou uma antologia do conjunto. Apesar de ser claramente um caça-níquel, o resultado do álbum foi satisfatório, pois reuniu os maiores clássicos da banda.
A (única) faixa inédita do disco era “You know you’re right”. Ela é um retrato fiel do Nirvana, e segue até mesmo os clichês da banda: início calmo e fim nervoso e verso-refrão-verso. Só ela já vale a compra. Mas o CD tem bem mais a oferecer. O debut da banda é representado pela simpática “About a girl”, uma (admitida pelo próprio Kurt) influência dos Beatles sobre o som do Nirvana. Em seguida, uma versão inédita em CD de “Been a son” (felizmente, é superior à versão do Incesticide) e a divertida e pesada “Sliver”. O Nevermind foi bem representado aqui, pelas imbatíveis “Smells like teen spirit”, “Come as you are”, “Lithium” e “In bloom”. O In Utero (meu disco preferido deles) também marcou presença com 5 músicas excepcionais: “Heart-shaped Box”, “Rape me”, “Pennyroyal Tea” (em versão remixada, com mais guitarras e som mais limpo), “Dumb” e “All apologies”. O acústico deles também está aqui, com os belos covers de “The man who sold the world” e “Where did you sleep last night”.
Apesar do resultado não ser perfeito (faltaram ótimas canções, como “Serve the servants”, “Aneurysm”, “Polly”, “Dive” e “School”) e o álbum ter sido feito mais para encher os cofres da gravadora do que para agradar aos fãs, estamos falando do Nirvana, os caras que tiraram o Rock do coma profundo que estava há um bom tempo. Em sua meteórica passagem, eles marcaram a música mundial para sempre. Se você está começando a gostar deles, o disco é imperdível para você conhecer os maiores hits da banda. E se você for fã, compre para completar sua discografia do conjunto.

A banda:
Kurt Cobain (vocal, guitarra), Krist Novoselic (baixo) e Dave Grohl (bateria, backing vocal).

Cotação: 9/10

24 julho 2005

Everyday I love you less and less...

Resenhas de discos

EMPLOYMENT (KAISER CHIEFS)

Se dependesse de bandas como Coldplay, Linkin Park e Evanescense e, em âmbito nacional, Charlie Brown Jr. e CPM22, o Rock já estaria morto há muito tempo. Eu nunca vi tanta banda de qualidade duvidosa e com mentalidade comercial (ignorando que qualidade é o que torna algo bom). Depois me chamam de nostálgico ao preferir bandas mais antigas, como Beatles, Led Zeppelin e The Clash, que eram claramente mais inovadoras e talentosas do que as atuais, que acham que um disco de platina e um hit nas rádios valem mais do que um trabalho bem feito e criativo.
Felizmente, há quem consiga salvar o gênero da mediocridade de outros. Em 2001, os Strokes mandaram bem com o seu debut. No ano passado, os escoceses do Franz Ferdinand lançaram um dos melhores discos da década. E, agora, outra banda estréia com um grande futuro pela frente. É o Kaiser Chiefs, quinteto oriundo de Leeds (Inglaterra).

Eles são uma banda de Rock alternativo (e de verdade, não é pseudo-rock como o Linkin Park). O disco de estréia deles pode não ser excelente, mas já demonstra algo bacana e promissor. Tanto que eles receberam 12 indicações para o prêmio Mercury e são os favoritos das casas de apostas britânicas. Além disso, tocaram no LIVE 8. As duas primeiras faixas (e também as melhores do álbum) são “Everyday I love you less and less”, uma canção sobre desilusão amorosa (e que não cai no senso comum), e “I predict a riot”, talvez uma demonstração explícita da influência punk no som deles, com um protesto furioso à sociedade tão desordenada. Elas são duas músicas bem trabalhadas, que conseguem misturar a agressividade da “cozinha” e dos vocais com um teclado que dá uma sonoridade mais eletrônica.

Outras canções se sobressaem, como “Caroline Yes”, cujo título parodia uma famosa canção do Beach Boys (“Caroline No”) e tem uma melodia romântica bem ao estilo do Blur; “Oh My God”, um dos destaques de Employment, em que o refrão combina perfeitamente com o ritmo da música (o sucesso nas paradas inglesas não é por acaso); “Team Mate”, que é bem leve e calma; “Na na na na Naa”, cujos destaques são a guitarra e os vocais engraçados; e “Modern Way”, outra composição bem-construída.

Eles podem não são originais (como já foi dito, o punk dos anos 70 e o Blur são as principais influências do som deles), contudo, o disco usa justamente disso para fazer uma salada musical bem interessante, que varia do eletrônico, passando pelo romântico e incluindo um Rock de peso. Além disso, a velocidade do disco é uma loucura – músicas muito rápidas contrastam com outras lentas. Mesmo não sendo perfeito, Employment é recomendável para quem quer algo diferente nesse mercado musical tão cheio de bandas que vendem até a alma em busca de fama e dinheiro.

A banda: Ricky Wilson (vocal), Andrew White (guitarra), Simon Rix (baixo), Nick Baine (teclados) e Nick Hodgson (bateria).


Cotação: 8/10

22 julho 2005

London's Burning, with boredom now...

Resenhas de discos

THE CLASH (THE CLASH)


Iggy Pop foi pioneiro nos anos 60. O Ramones, com sua despretensão e canções sobre tédio e banalidades, e o Sex Pistols, com sua anarquia e “niilismo de boutique”, estouraram o movimento em 1976. Mas quem realmente provou que o punk era muito mais do que pancada sonora e gritaria ensadecida foi o The Clash. Ao contrário do conjunto de Sid Vicious, eles não eram apenas atitude – tinham talento. Socialistas e idealistas, eles sempre foram panfletários e politizados em suas canções, criticavam o Estado e propunham uma sociedade mais justa e menos desigual. Em seu primeiro disco, o mais agressivo de todos, isso fica bem claro.
Em faixas como “White Riot” e “Clash City Rockers”, o protesto político é explícito e furioso. A ironia em relação à decadência londrina predomina em “London’s Burning”. A famosa “I Fought The Law” é um dos destaques do debut da banda, assim como “Janie Jones”, que trata sobre a desilusão com o emprego e a fuga dessa realidade com namoradas e Rock n’ Roll. O trabalho também é o alvo das críticas de “Career Oportunities” e “Complete Control” (sendo esta direcionada à gravadora). As frustrações com a vida e a baixa-estima são o tema de “What’s My Name”. A única canção que não é punk é o cover “Police and Thieves”, um reggae com um bom ritmo.
Praticamente todas as músicas são boas. O disco tem um Punk Rock puro (portanto, cru e direto), e o descontentamento do trio criativo da banda (Joe, Mick e Paul) com a situação é muito bem expressado, seja pelas ótimas letras ou pelas composições marcantes. O The Clash seguiria essa estilo no 2º disco (Give’em Enough Rope, 1978), mas mudanças no som viriam no lendário London Calling (aguarde uma resenha sobre ele!). É interessante saber que há duas versões distintas do álbum de estréia da banda: a inglesa e a americana. A diferença fica pelo fato de que a dos EUA incluiu os singles da banda lançados até aquele momento (como "I Fought The Law") e tirou as músicas “menos acessíveis” (para não dizer mais sujas). Mas ambas as edições são boas; a da Inglaterra, por ser um registro mais honesto do Clash, e a estadunidense por incluir músicas muito boas que não estavam no original.
Se quiser conhecer uma das mais influentes bandas de Rock da história nas suas origens, ouça as faixas desse disco e comprove o porquê de tanto culto ao The Clash.

- Ouça Janie Jones: é só clicar aqui para baixá-la pelo Rapidshare! (Qualidade: 192 kbits por segundo)
Obs.: No Rapidshare, você só pode fazer um download a cada 6o minutos. A não ser que você descubra algum login e senha da versão Premium, hehe... (se alguém conseguir, POR FAVOR, ME PASSE!)

A banda: Joe Strummer (vocal, guitarra), Mick Jones (vocal, guitarra), Paul Simonon (baixo) e Terry Chimes (bateria). Topper Headon tocou bateria em algumas faixas.

Cotação: 9/10

21 julho 2005

We all live in the Yellow Submarine...

Resenhas de discos

REVOLVER (THE BEATLES)

Em 1966, os Beatles resolveram abandonar o ié-ié-ié e provar que sabiam fazer música de verdade. E a mudança não foi só sonora, mas também de comportamento. John Lennon declarou que eles eram maiores que Jesus Cristo (eu desconfio que ele foi mal-interpretado). Um dos Lps americanos, o “Yesterday and Today”, teve uma capa com os quatro vestidos de açougueiros e segurando bonecos decapitados e ensangüentados (que foi obviamente censurada) . Além disso, o quarteto de Liverpool parou da fazer shows para se concentrar nos estúdios. As experiências com drogas também aumentaram, e foram decisivas para a radical transformação do conjunto.
O sétimo álbum do Fab-Four foi lançado em agosto daquele ano, pouco depois do sensacional Pet Sounds, dos Beach Boys, um disco que revolucionou a música. Contudo, Revolver está à altura dele, e é tão inovador quanto. Os Beatles já haviam tentado novas sonoridades em Help! e Rubber Soul, mas desta vez, não foram moderados no experimentalismo, e o resultado foi excepcional.
O disco é aberto por “Taxman”, uma incrível composição de George, com uma letra que criticava os altos impostos britânicos. Em seguida, “Eleanor Rigby” veio inovar com uma orquestra que acompanhava a voz solo de Paul McCartney. A música é bela e triste. Lennon surge com “I’m Only Sleeping”, com um som distorcido e uma maneira do autor pedir que o deixassem em paz. A quarta faixa é “Love me to”, uma canção indiana de Harrison, quase que uma preparação para a “Within You, Without You” do Sgt. Pepper’s. “Here, There And Everywhere” é uma típica balada de Paul, mas é mais evoluída que as anteriores dele. Após ela, temos “Yellow Submarine”, numa grande performance vocal de Ringo Starr e uma melodia contagiante e psicodélica. Talvez a melhor de Revolver. O lado A do LP é fechado por “She Said She Said”. Destaque para as referências às experiências com drogas de John, a guitarra do mesmo e o surpreendente desempenho de Ringo na bateria.
“Good Day Sunshine” é uma simpática música de Paul, que antecede a sincronia no vocal e na guitarra de “And Your Bird Can Sing”. “For No One” é uma canção romântica, e talvez seja uma referência a Janie Asher, namorada de Paul na época. “Doctor Robert” fala sobre um médico que a banda conheceu, e que supostamente forneceu LSD para eles. “I Want To Tell You” é uma despretensiosa composição do “Beatle quieto”. Na reta final, o álbum chega ao ápice com “Got to Get You Into My Life” (que conta com uma melodia contagiante e faz uma alusão implícita à maconha) e “Tomorrow Never Knows” (outro destaque do disco, com John recitando trechos do Livro Tibetano dos Mortos, em meio a um experimentalismo profundo, indo de voz distorcida a melodia arrepiante; além disso, Ringo prova definitivamente que não era um baterista meia-boca).
Após esse texto enorme, eu duvido que você deixe de ouvir Revolver. O álbum revolucionou a música mundial, e foi o ponto de partida para os trabalhos mais ousados do quarteto, como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Isso sem falar que é um dos melhores discos de todos os tempos, e está em qualquer lista (e geralmente, nas primeiras posições) que se considere de respeito. Ouça ele e descubra porque os quatro cabeludos ainda são a maior banda de Rock que já existiu.

A banda: John Lennon (vocal, guitarra), Paul McCartney (vocal, baixo), George Harrison (guitarra, vocal) e Ringo Starr (bateria).

Cotação: 10/10

20 julho 2005

Olha o sopro do dragão...

Resenhas de discos

V (LEGIÃO URBANA)

Toda banda que se preze tem o seu disco perfeito, a sua obra-prima. Sim, me refiro aos álbuns que conseguem prender o ouvinte durante toda a audição, aqueles que não tem hits, pois todas as músicas são bem acima da média. Me parece que esse é o caso do V. Ele é uma contradição ao período entre o finalzinho dos anos 80 e o início dos 90 para o Rock nacional, que passou por uma fase negra, e, entre outros fatos, teve o fim do RPM, a morte de Cazuza e a ascensão de estilos musicais como a lambada e o axé.
A Legião vinha de quatro discos bem-sucedidos, que trouxeram hits como "Será", "Faroeste Caboclo", "Pais e Filhos" e "Tempo Perdido" e o reconhecimento nacional. O trio (que era quarteto até 88, com a saída de Renato Rocha) tinha pouca técnica, mas suas melodias e letras garantiam aos seus trabalhos um alto nível.
O quadro de saúde de Renato Russo era sofrível, e o país estava em plena Era Collor, com direito a confisco de poupança e tudo mais. O conjunto lançou em Dezembro de 1991 o álbum V. A crítica massacrou o disco, taxando-o de melancólico e pouco criativo. O público gostou, mas a perplexidade foi clara, afinal, com a exceção de "O Teatro De Vampiros" e "Vento No Litoral", nenhuma música emplacou.
V tem quase 50 minutos de duração e 10 faixas. Pode parecer pouco, mas não é. Começamos pela faixa 1, "Love Song". Ela cumpre perfeitamente o papel de música de abertura. A sonoridade surpreende com um clima trovadoresco. Mas isso era pouco perto do que estaria por vir - "Metal Contra As Nuvens". 11 minutos e 29 segundos de duração - uma eternidade. Ainda assim, é a obra-prima da Legião, um Rock progressivo para inglês ver. A melodia é incrível, e a letra é impecável. A canção é uma viagem medieval no início, transforma-se em contestação política e agressividade no meio e tem versos esperançosos no fim. Muitos devem se lembrar de que há uma versão desplugada dela no Acústico Mtv. Apesar de não ser melhor que a original, a versão acústica é excelente e também imperdível.
"A Ordem Dos Templários" é instrumental; essa faixa tem uma ambientação soturna muito boa. "A Montanha Mágica" é uma música fenomenal, outro ponto alto do disco. A letra é lisérgica, com referências claras às drogas e uma sonoridade bem psicodélica. São quase oito minutos de deixar qualquer um impressionado. A calmaria vem com "O Teatro Dos Vampiros", mas nem tanto - a letra é politizada, e é considerada por muitos um retrato fiel do governo de Fernando Collor de Mello. A poesia e o bom ritmo de "Sereníssima" provam que a Legião Urbana soube segurar a barra no Lado B de V.
"Vento No Litoral" é melancólica e triste, e cumpre o papel de balada romântica, bem ao estilo de Renato Russo. "O Mundo Anda Complicado" é despretensiosa e otimista, contrastando com o resto do disco, mas nem por isso sendo de qualidade inferior. "L'âge D'or" é um Rock pesado, com versos bem agressivos, como "
Já tentei muitas coisas, de heroína a Jesus", e o último suspiro de Rock progressivo no disco, pois logo em seguida, o trabalho seria encerrado com chave de ouro com "Come Share My Life". Ela é instrumental e curta (2 minutos), e tem um clima meio fúnebre, que, contudo, é perfeito para encerrar um disco de peso como esse.
Depois de tudo isso, fica bem claro que V é o melhor álbum da Legião Urbana, doa a quem doer. É a prova de que Bonfá, Dado e Russo não precisavam de músicas simpáticas como "Eduardo E Mônica" para provarem que eram uma das mais respeitáveis bandas de Rock da história do Brasil. Em 1991, desbancaram os Titãs do topo, e só sairiam dele quando Renato faleceu, em Outubro de 96. Mas o legado da Legião durou até depois da morte de seu líder; tanto que a banda continua prestigiada até hoje. Faça um favor a si mesmo e ouça esse disco.

A banda: Renato Russo (vocal, teclados, violão), Dado Villa-Lobos (guitarra, violão) e Marcelo Bonfá (bateria, percussão).

Cotação: 9/10