21 julho 2005

We all live in the Yellow Submarine...

Resenhas de discos

REVOLVER (THE BEATLES)

Em 1966, os Beatles resolveram abandonar o ié-ié-ié e provar que sabiam fazer música de verdade. E a mudança não foi só sonora, mas também de comportamento. John Lennon declarou que eles eram maiores que Jesus Cristo (eu desconfio que ele foi mal-interpretado). Um dos Lps americanos, o “Yesterday and Today”, teve uma capa com os quatro vestidos de açougueiros e segurando bonecos decapitados e ensangüentados (que foi obviamente censurada) . Além disso, o quarteto de Liverpool parou da fazer shows para se concentrar nos estúdios. As experiências com drogas também aumentaram, e foram decisivas para a radical transformação do conjunto.
O sétimo álbum do Fab-Four foi lançado em agosto daquele ano, pouco depois do sensacional Pet Sounds, dos Beach Boys, um disco que revolucionou a música. Contudo, Revolver está à altura dele, e é tão inovador quanto. Os Beatles já haviam tentado novas sonoridades em Help! e Rubber Soul, mas desta vez, não foram moderados no experimentalismo, e o resultado foi excepcional.
O disco é aberto por “Taxman”, uma incrível composição de George, com uma letra que criticava os altos impostos britânicos. Em seguida, “Eleanor Rigby” veio inovar com uma orquestra que acompanhava a voz solo de Paul McCartney. A música é bela e triste. Lennon surge com “I’m Only Sleeping”, com um som distorcido e uma maneira do autor pedir que o deixassem em paz. A quarta faixa é “Love me to”, uma canção indiana de Harrison, quase que uma preparação para a “Within You, Without You” do Sgt. Pepper’s. “Here, There And Everywhere” é uma típica balada de Paul, mas é mais evoluída que as anteriores dele. Após ela, temos “Yellow Submarine”, numa grande performance vocal de Ringo Starr e uma melodia contagiante e psicodélica. Talvez a melhor de Revolver. O lado A do LP é fechado por “She Said She Said”. Destaque para as referências às experiências com drogas de John, a guitarra do mesmo e o surpreendente desempenho de Ringo na bateria.
“Good Day Sunshine” é uma simpática música de Paul, que antecede a sincronia no vocal e na guitarra de “And Your Bird Can Sing”. “For No One” é uma canção romântica, e talvez seja uma referência a Janie Asher, namorada de Paul na época. “Doctor Robert” fala sobre um médico que a banda conheceu, e que supostamente forneceu LSD para eles. “I Want To Tell You” é uma despretensiosa composição do “Beatle quieto”. Na reta final, o álbum chega ao ápice com “Got to Get You Into My Life” (que conta com uma melodia contagiante e faz uma alusão implícita à maconha) e “Tomorrow Never Knows” (outro destaque do disco, com John recitando trechos do Livro Tibetano dos Mortos, em meio a um experimentalismo profundo, indo de voz distorcida a melodia arrepiante; além disso, Ringo prova definitivamente que não era um baterista meia-boca).
Após esse texto enorme, eu duvido que você deixe de ouvir Revolver. O álbum revolucionou a música mundial, e foi o ponto de partida para os trabalhos mais ousados do quarteto, como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Isso sem falar que é um dos melhores discos de todos os tempos, e está em qualquer lista (e geralmente, nas primeiras posições) que se considere de respeito. Ouça ele e descubra porque os quatro cabeludos ainda são a maior banda de Rock que já existiu.

A banda: John Lennon (vocal, guitarra), Paul McCartney (vocal, baixo), George Harrison (guitarra, vocal) e Ringo Starr (bateria).

Cotação: 10/10