Homem primata, capitalismo selvagem...
Resenhas de discos
O que esperar de uma banda cujo maior hit até o momento era “Sonífera Ilha”? O primeiro disco da banda era mediano, e faixas que viraram clássicos posteriormente (com as versões ao vivo, em 1988), como “Marvin” e “Go Back”, não tinham bons arranjos. Já o segundo LP era razoável, e contava com as ótimas “Autonomia”, “Televisão” e “Massacre”. Mas o octeto (!) paulista parecia ter potencial para fazer mais do que aquilo. A resposta foi Cabeça Dinossauro.
Esse álbum é tão incrível e influente que ele provou, definitivamente, que os brasileiros sabiam fazer Rock dos bons. Claro que antes dele vieram os Secos e Molhados e os Mutantes, duas bandas sensacionais, e a Legião Urbana e o RPM se deram bem com suas estréias no ano anterior. Mas foi realmente em julho de 1986 que o Brasil provou a sua capacidade roqueira.
O terceiro LP dos Titãs é aberto pela faixa-título. É uma canção pesada, um bate-estaca com versos que parecem um ritual indígena (e, por incrível que pareça, são mesmo – rito dos xingus contra os maus espíritos). Em seguida, temos a divertida “AA UU”, que divaga sobre o cotidiano patético dos jovens. “Igreja” é a mais polêmica de todas, com sua letra que soa como um hino dos ateus por trás de um Rock irado. “Polícia” ataca outra instituição, e mantém em progresso a fúria do álbum. “Estado Violência” é uma das mais sérias e bem-feitas. “A Face do Destruidor” é um Hardcore de quarenta segundos que reflete sobre a cultura da destruição.
“Porrada” já se entrega no título: a banda clama pelo uso da violência contra os grupos sociais famigerados, como os políticos e os advogados. “Tô Cansado” é uma triste, porém agressiva música sobre o tédio da juventude. “Bichos Escrotos”, com seu bom humor, seu peso e sua escatologia, foi até censurada na época. “Família”, apesar de mais calma e pop, também pega pesado na letra. “Homem Primata” critica a sociedade capitalista e a irracionalidade do ser humano. “Dívidas” tem seu ponto forte nos versos, ao contrário de “O quê”, que conta com um ritmo alucinante e dançante.
Se, atualmente, os Titãs já não são aquela coisa, antigamente os caras eram a melhor banda de Rock que havia no Brasil. Ouça Cabeça Dinossauro, e veja as raízes Punk do conjunto.
A banda (em 1986): Paulo Miklos (vocal), Nando Reis (vocal, baixo), Arnaldo Antunes (vocal), Sérgio Britto (vocal, teclados), Branco Mello (vocal), Charles Gavin (bateria), Marcelo Fromer (guitarra) e Tony Bellotto (guitarra).
Cotação: 9,5/10
CABEÇA DINOSSAURO (TITÃS)
O que esperar de uma banda cujo maior hit até o momento era “Sonífera Ilha”? O primeiro disco da banda era mediano, e faixas que viraram clássicos posteriormente (com as versões ao vivo, em 1988), como “Marvin” e “Go Back”, não tinham bons arranjos. Já o segundo LP era razoável, e contava com as ótimas “Autonomia”, “Televisão” e “Massacre”. Mas o octeto (!) paulista parecia ter potencial para fazer mais do que aquilo. A resposta foi Cabeça Dinossauro.
Esse álbum é tão incrível e influente que ele provou, definitivamente, que os brasileiros sabiam fazer Rock dos bons. Claro que antes dele vieram os Secos e Molhados e os Mutantes, duas bandas sensacionais, e a Legião Urbana e o RPM se deram bem com suas estréias no ano anterior. Mas foi realmente em julho de 1986 que o Brasil provou a sua capacidade roqueira.
O terceiro LP dos Titãs é aberto pela faixa-título. É uma canção pesada, um bate-estaca com versos que parecem um ritual indígena (e, por incrível que pareça, são mesmo – rito dos xingus contra os maus espíritos). Em seguida, temos a divertida “AA UU”, que divaga sobre o cotidiano patético dos jovens. “Igreja” é a mais polêmica de todas, com sua letra que soa como um hino dos ateus por trás de um Rock irado. “Polícia” ataca outra instituição, e mantém em progresso a fúria do álbum. “Estado Violência” é uma das mais sérias e bem-feitas. “A Face do Destruidor” é um Hardcore de quarenta segundos que reflete sobre a cultura da destruição.
“Porrada” já se entrega no título: a banda clama pelo uso da violência contra os grupos sociais famigerados, como os políticos e os advogados. “Tô Cansado” é uma triste, porém agressiva música sobre o tédio da juventude. “Bichos Escrotos”, com seu bom humor, seu peso e sua escatologia, foi até censurada na época. “Família”, apesar de mais calma e pop, também pega pesado na letra. “Homem Primata” critica a sociedade capitalista e a irracionalidade do ser humano. “Dívidas” tem seu ponto forte nos versos, ao contrário de “O quê”, que conta com um ritmo alucinante e dançante.
Se, atualmente, os Titãs já não são aquela coisa, antigamente os caras eram a melhor banda de Rock que havia no Brasil. Ouça Cabeça Dinossauro, e veja as raízes Punk do conjunto.
A banda (em 1986): Paulo Miklos (vocal), Nando Reis (vocal, baixo), Arnaldo Antunes (vocal), Sérgio Britto (vocal, teclados), Branco Mello (vocal), Charles Gavin (bateria), Marcelo Fromer (guitarra) e Tony Bellotto (guitarra).
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