31 julho 2005

Your bones got a little machine...

Resenhas de discos
SURFER ROSA (PIXIES)



O Pixies é um das mais criativas bandas dos anos 80. Suas letras divertidas, os vocais lesados de Black Francis, o backing vocal sexy e a boa performance no baixo de Kim Deal somados à bateria arrasadora de David Lovering e a guitarra detonante de Joey Santiago fizeram do quarteto oriundo de Boston uma grande influência para o rock.

Eles estrearam com o EP ‘Come On Pilgrim’, mas o primeiro álbum foi ‘Surfer Rosa’, 1988. Até a ruptura devido a diferença dos interesses criativos entre Frank Black e Kim Deal, que ocorreu em 1992, o Pixies era uma banda bastante cultuada no cenário alternativo. Com quatro álbuns lançados estava em franca ascensão: abria parte dos shows americanos para o U2, vendia muito no outro lado do Atlântico (o selo que os revelou ao mundo foi o britânico 4AD), recebia elogios de artistas como David Bowie e Billy Corgan e posava de modelo para Kurt Cobain – que declarou ter composto “Smells Like Teen Spirit” procurando o “pop perfeito” do grupo formado na cidade de Boston.

Mesmo depois da separação a banda continuou sendo conhecida e idolatrada.  Kim Deal foi a única que conseguiu alguma projeção em carreira solo - à frente do Breeders, grupo que fez enorme sucesso em 1993 com o álbum Last Splash e o hit “Cannonball”.

O retorno do grupo em 2004, doze anos após a separação, fez a alegria dos fãs. Os duendes fizeram até show no Brasil deixando o Curitiba Rock Festival lotado. Sempre atuais e mais jovens do que nunca eles arrebatam novos admiradores a cada dia. Se você ainda não conhece ouça Surfer Rosa.
O disco é maravilhoso em todos os aspectos - da bela capa ao repertório, que ainda soa atual, mesmo 17 anos depois.  A pancada sonora surpreende e vicia o ouvinte, que dificilmente consegue esquecer as músicas o que, aliás, é um fato comum a toda a discografia do Pixies.
 A primeira canção, ‘Bone Machine’, figura entre o que considero as melhores músicas de todos os tempos e é a mais viciante das treze. Várias outras faixas se destacam, como ‘Oh My Golly’ e ‘Broken Face’, com seus versos malucos e a histeria nos vocais. ‘River Euphrates’ é uma das mais simpáticas (destaque para o backing vocal de Kim); ‘Brick Is Red’ possui uma melodia inesquecível. ‘Where Is My Mind?’ é a mais famosa (foi incluída na trilha sonora do filme Clube da Luta). ‘Gigantic’, única composição de Kim Deal, é a mais pop do disco. A canção ‘Vamos’ se destaca pela gritaria de Francis e os solos de Joey.
Os Pixies voltariam a repetir a dose com sua outra obra-prima ‘Doolittle’ e os ótimos ‘Bossanova’ e ‘Trompe Le Monde’. Mas, provavelmente, a sua melhor gravação foi o ‘Surfer Rosa’. Ouça-o no volume máximo, da primeira à última faixa. Aliás, a edição gringa do disco contém como bônus as oito faixas do EP ‘Come On Pilgrim’ - imperdível. Você finalmente vai entender o porquê de tanta idolatria a esse quarteto que tanto contribuiu para o Indie Rock. Que o digam Placebo, Nirvana, Radiohead, Strokes e Pearl Jam todos influenciados por eles.

- Ouça Bone Machine: é só clicar aqui para baixá-la pelo Rapidshare! (Qualidade: 160 kbits por segundo)
- Ouça Where Is My Mind: é só clicar aqui para baixá-la pelo Rapidshare! (Qualidade: 192 kbits por segundo)

A banda: Black Francis (vocal, guitarra), Kim Deal (baixo, vocal), David Lovering (bateria) e Joey Santiago (guitarra).

(5/6/12: Versão atualizada dessa matéria, contendo as modificações feitas para a publicação na edição de Outubro/2005 do Correio Classe)



Cotação: 9,5/10

29 julho 2005

It's been a hard day's night...

Resenhas de discos

A HARD DAY'S NIGHT (THE BEATLES)
Quando lançaram em outubro de 1962 seu primeiro single (“Love me do”), os Beatles jamais imaginariam que, em julho de 1964, apenas 21 meses depois, já seriam a maior banda de Rock do planeta. Pois foi nesse mês que eles lançaram o disco que provou isso. A Hard Day’s Night foi um projeto ambicioso para provar que aqueles quatro cabeludos que, no início de 64, dominaram os EUA, vieram para ficar. Gravaram um filme que misturava ficção com realidade, e mostrava 48 horas do cotidiano dos Beatles, assim como também lançaram um LP contendo as sete músicas da trilha sonora do longa metragem e mais seis faixas inéditas. Não podia dar errado. E não deu. Sucesso absoluto, que provou que o quarteto de Liverpool era realmente uma grande banda, tanto em termos de música quanto em imagem.
O álbum é aberto pela vibrante “A Hard Day’s Night”, uma canção baseada numa frase de Ringo (“É uma noite de um dia árduo”), e reflete o ritmo alucinante de trabalho da banda. “I should have known better” é simpatica, e funciona (muito) bem como baladinha. “If I feel” é uma das mais belas do disco, e antecede a única faixa cantada por Harrison, “I’m happy just to dance with you” (lembrando que TODAS as treze músicas foram compostas pela dupla Lennon e McCartney). A linda “And I love her” prova o talento de Paul para composições de temática romântica. “Tell me why” é despretensiosa. “Can’t buy me love”, single lançado alguns meses antes, foi sucesso mundial com sua melodia e letra contagiantes.
“Any time at all” e “I’ll cry instead” são duas canções que, apesar de boas, não se destacam. “Things we said today” foi lado B do compacto da faixa-título, mas não merecia ser ofuscada – é uma das mais interessantes do disco. “When I get home” e “You can’t do that”, mesmo não tendo sido músicas de trabalho, são bem legais. Fechando A Hard Day’s Night, temos a temática (já trabalhada em outras trilhas do LP) de saudades de casa sendo trabalhada por “I’ll be back”.
As fãs histéricas, a aclamação da crítica e os recordes de vendagem obtidos pelo fab-four não foram à toa. John, Paul, George e Ringo tinham talento, e o fato de serem pop e comerciais não atrapalhou em nada a qualidade do trabalho deles. Após o terceiro disco, provavelmente a fase mais alegre da beatlemania, eles começaram a se cansar das turnês e reclamaram disso em Beatles For Sale e Help!. Mas esses (e outros) álbuns são assuntos para outras resenhas. Por enquanto, curta a criatividade de A Hard Day’s Night.

Ouça A Hard Day's Night: é só clicar aqui e baixá-la pelo Rapidshare! (Qualidade: 192 kbits por segundo)
Obs.: O Rapidshare só aceita um download a cada 60 minutos. A não ser que você tenha o login e a senha da versão Premium (caso tenha, POR FAVOR, ME PASSE!).

A banda: John Lennon (vocal, guitarra), Paul McCartney (vocal, baixo), George Harrison (guitarra) e Ringo Starr (bateria).


Cotação: 8,5/10

28 julho 2005

Find me and follow me...

Chegou o fórum do White Riot!
O endereço é http://www.whiteriot.rg3.net
Lá você pode debater sobre Rock (são 6 espaços sobre Rock, cobrindo as principais vertentes), livros, televisão, games ou mesmo falar qualquer porcaria na seção "Conversa fiada".
Convido todos que estiverem lendo para visitá-lo e indicá-lo para outras pessoas.

26 julho 2005

And she's buying a stairway to heaven...

Resenhas de discos
LED ZEPPELIN IV (LED ZEPPELIN)

Eu já admirava o trabalho do Led Zeppelin há alguns meses. Até tinha gravado uma coletânea de dois CDs cobrindo as trinta músicas deles que eu mais gostava. Mas faltavam duas coisas para eu ser um fã de verdade (claro, desconsiderando ir a um show, até porque fazem 25 anos que a banda terminou): comprar uma camiseta (já a adquiri, ela representa a capa do LP Physical Graffiti) e pelo menos um CD original. Bem, eu queria o “Houses of the Holy”, meu álbum favorito do quarteto britânico. Não estando ele disponível na loja, optei pelo meu 2º preferido: o Led IV.
Esse disco foi o divisor de águas na carreira da banda, tamanha a sua importância. Após três anos tocando, eles precisavam se eternizar na história do Rock. E conseguiram com esse álbum. Ele tinha tudo para dar errado: o Led Zeppelin era odiado pelos críticos, o último LP deles não fizera tanto sucesso e o disco não indicava nem o nome do conjunto, nem o título dele – apenas tinha a foto de um velhinho. Page acreditava que os fãs não deixariam de comprar por causa disso. Todos que duvidavam disso (incluindo a gravadora) quebraram a cara com o bom desempenho do mesmo: 21 milhões de cópias vendidas do mundo inteiro e a consagração do Led em âmbito mundial.
Led Zeppelin IV, ou Zoso para os íntimos, consegue se superar a cada audição. A primeira faixa, “Black Dog”, já prova o potencial do quarto trabalho de estúdio dele: é uma canção poderosa, e quase um sinônimo de Led Zeppelin. “Rock and Roll” já se entrega no título – é um verdadeiro hino de fidelidade ao Rock. Passou a ser a música de abertura de todos os shows da banda. Em seguida, veio a prova da busca deles por novas sonoridades (e a confirmação de que eles liam muito O Senhor dos Anéis... hehe) – “The Battle of Evermore”. Mas o petardo do disco ainda estaria por vir: “Stairway to Heaven”. Ela é tão boa que não foram por acaso os vários prêmios que recebeu como melhor música de todos os tempos ou o fato de ser a faixa mais tocada nas rádios da história. Ela também É conhecida como a canção-síntese deles, pois começa calma e folk, e gradativamente vai virando um Rock pesado. Quando a compuseram, Jimmy e Robert já sabiam que aquela seria a canção pela qual eles seriam lembrados pela eternidade (tanto que foi a única letra do disco publicada no encarte), e eles não erraram em suas pretensões.
O lado B de Zoso (esse nome se deve aos símbolos presentes no LP, que formavam a palavra ZOSO) foi praticamente ignorado pelo público depois de um lado A tão perfeito. Mas isso seria um erro imperdoável, e os que ouviram o mesmo sabem disso. “Misty Mountain Hop” é outra canção bem exótica, e apesar de estranhar o ouvinte na primeira vez, é muito boa. “Four Sticks” também é sincera ao nome: Bonham usou quatro baquetas para toca-la! “Going to California” é a mais calma e romântica das oito músicas do álbum, com belos vocais de Plant. A oitava faixa, “When the levee breaks”, é outro grande momento de Led IV, pois a banda mostra o melhor de sua técnica aqui. Jonesy detonou no baixo, Page arrasou na guitarra, Bonzo foi impecável na bateria e Robert cantou muito bem.
Quando se termina de ouvir Led Zeppelin IV, parece que você nunca mais será o mesmo. O disco causa um grande impacto, de tão bom que é. Os quatro membros do conjunto provaram que sabiam fazer um som variado, indo do Hard Rock ao lírico e erudito. O baixista do Led até brincou:
“Ninguém nunca mais nos comparou ao Black Sabbath depois deste álbum”. Ouça se quiser conhecer uma obra-prima do Rock e descobrir o motivo de tanta adoração ao Led Zeppelin.

Ouça Stairway to Heaven: é só clicar aqui para baixá-la pelo Rapidshare! (Qualidade: 160 kbits por segundo)

A banda: Jimmy Page (guitarra), Robert Plant (vocal), John Paul Jones (baixo, teclados) e John Bonham (bateria)

Cotação: 9,5/10

25 julho 2005

You know you're right...

Resenhas de discos

NIRVANA (NIRVANA)

Não sei quanto a você que está lendo essa resenha, mas, na minha opinião, a melhor banda dos anos 90 foi o Nirvana. Afinal, o trio de Seattle revolucionou o Rock, que há muito tempo não dava mostras de novidades. O cenário estava dominado por bandas que se preocupavam mais com quantidade do que qualidade. Inspirados pela criatividade de bandas alternativas da década de 80, como o Pixies e o Sonic Youth, o Nirvana estourou em 1991 com Nevermind, mas já fazia um som bacana desde a estréia dois anos antes em Bleach, e continuou excelente com os discos Incesticide e In Utero, até a morte de Kurt, em 1994.
Em 2002, foi lançada a coletânea da banda. Os fãs queriam mesmo era a caixa de CDs cheia de inéditas (que só viria a ser lançada no ano passado), mas a controversa ex-esposa de Cobain, Courtney Love, só liberou uma antologia do conjunto. Apesar de ser claramente um caça-níquel, o resultado do álbum foi satisfatório, pois reuniu os maiores clássicos da banda.
A (única) faixa inédita do disco era “You know you’re right”. Ela é um retrato fiel do Nirvana, e segue até mesmo os clichês da banda: início calmo e fim nervoso e verso-refrão-verso. Só ela já vale a compra. Mas o CD tem bem mais a oferecer. O debut da banda é representado pela simpática “About a girl”, uma (admitida pelo próprio Kurt) influência dos Beatles sobre o som do Nirvana. Em seguida, uma versão inédita em CD de “Been a son” (felizmente, é superior à versão do Incesticide) e a divertida e pesada “Sliver”. O Nevermind foi bem representado aqui, pelas imbatíveis “Smells like teen spirit”, “Come as you are”, “Lithium” e “In bloom”. O In Utero (meu disco preferido deles) também marcou presença com 5 músicas excepcionais: “Heart-shaped Box”, “Rape me”, “Pennyroyal Tea” (em versão remixada, com mais guitarras e som mais limpo), “Dumb” e “All apologies”. O acústico deles também está aqui, com os belos covers de “The man who sold the world” e “Where did you sleep last night”.
Apesar do resultado não ser perfeito (faltaram ótimas canções, como “Serve the servants”, “Aneurysm”, “Polly”, “Dive” e “School”) e o álbum ter sido feito mais para encher os cofres da gravadora do que para agradar aos fãs, estamos falando do Nirvana, os caras que tiraram o Rock do coma profundo que estava há um bom tempo. Em sua meteórica passagem, eles marcaram a música mundial para sempre. Se você está começando a gostar deles, o disco é imperdível para você conhecer os maiores hits da banda. E se você for fã, compre para completar sua discografia do conjunto.

A banda:
Kurt Cobain (vocal, guitarra), Krist Novoselic (baixo) e Dave Grohl (bateria, backing vocal).

Cotação: 9/10

24 julho 2005

Everyday I love you less and less...

Resenhas de discos

EMPLOYMENT (KAISER CHIEFS)

Se dependesse de bandas como Coldplay, Linkin Park e Evanescense e, em âmbito nacional, Charlie Brown Jr. e CPM22, o Rock já estaria morto há muito tempo. Eu nunca vi tanta banda de qualidade duvidosa e com mentalidade comercial (ignorando que qualidade é o que torna algo bom). Depois me chamam de nostálgico ao preferir bandas mais antigas, como Beatles, Led Zeppelin e The Clash, que eram claramente mais inovadoras e talentosas do que as atuais, que acham que um disco de platina e um hit nas rádios valem mais do que um trabalho bem feito e criativo.
Felizmente, há quem consiga salvar o gênero da mediocridade de outros. Em 2001, os Strokes mandaram bem com o seu debut. No ano passado, os escoceses do Franz Ferdinand lançaram um dos melhores discos da década. E, agora, outra banda estréia com um grande futuro pela frente. É o Kaiser Chiefs, quinteto oriundo de Leeds (Inglaterra).

Eles são uma banda de Rock alternativo (e de verdade, não é pseudo-rock como o Linkin Park). O disco de estréia deles pode não ser excelente, mas já demonstra algo bacana e promissor. Tanto que eles receberam 12 indicações para o prêmio Mercury e são os favoritos das casas de apostas britânicas. Além disso, tocaram no LIVE 8. As duas primeiras faixas (e também as melhores do álbum) são “Everyday I love you less and less”, uma canção sobre desilusão amorosa (e que não cai no senso comum), e “I predict a riot”, talvez uma demonstração explícita da influência punk no som deles, com um protesto furioso à sociedade tão desordenada. Elas são duas músicas bem trabalhadas, que conseguem misturar a agressividade da “cozinha” e dos vocais com um teclado que dá uma sonoridade mais eletrônica.

Outras canções se sobressaem, como “Caroline Yes”, cujo título parodia uma famosa canção do Beach Boys (“Caroline No”) e tem uma melodia romântica bem ao estilo do Blur; “Oh My God”, um dos destaques de Employment, em que o refrão combina perfeitamente com o ritmo da música (o sucesso nas paradas inglesas não é por acaso); “Team Mate”, que é bem leve e calma; “Na na na na Naa”, cujos destaques são a guitarra e os vocais engraçados; e “Modern Way”, outra composição bem-construída.

Eles podem não são originais (como já foi dito, o punk dos anos 70 e o Blur são as principais influências do som deles), contudo, o disco usa justamente disso para fazer uma salada musical bem interessante, que varia do eletrônico, passando pelo romântico e incluindo um Rock de peso. Além disso, a velocidade do disco é uma loucura – músicas muito rápidas contrastam com outras lentas. Mesmo não sendo perfeito, Employment é recomendável para quem quer algo diferente nesse mercado musical tão cheio de bandas que vendem até a alma em busca de fama e dinheiro.

A banda: Ricky Wilson (vocal), Andrew White (guitarra), Simon Rix (baixo), Nick Baine (teclados) e Nick Hodgson (bateria).


Cotação: 8/10

22 julho 2005

London's Burning, with boredom now...

Resenhas de discos

THE CLASH (THE CLASH)


Iggy Pop foi pioneiro nos anos 60. O Ramones, com sua despretensão e canções sobre tédio e banalidades, e o Sex Pistols, com sua anarquia e “niilismo de boutique”, estouraram o movimento em 1976. Mas quem realmente provou que o punk era muito mais do que pancada sonora e gritaria ensadecida foi o The Clash. Ao contrário do conjunto de Sid Vicious, eles não eram apenas atitude – tinham talento. Socialistas e idealistas, eles sempre foram panfletários e politizados em suas canções, criticavam o Estado e propunham uma sociedade mais justa e menos desigual. Em seu primeiro disco, o mais agressivo de todos, isso fica bem claro.
Em faixas como “White Riot” e “Clash City Rockers”, o protesto político é explícito e furioso. A ironia em relação à decadência londrina predomina em “London’s Burning”. A famosa “I Fought The Law” é um dos destaques do debut da banda, assim como “Janie Jones”, que trata sobre a desilusão com o emprego e a fuga dessa realidade com namoradas e Rock n’ Roll. O trabalho também é o alvo das críticas de “Career Oportunities” e “Complete Control” (sendo esta direcionada à gravadora). As frustrações com a vida e a baixa-estima são o tema de “What’s My Name”. A única canção que não é punk é o cover “Police and Thieves”, um reggae com um bom ritmo.
Praticamente todas as músicas são boas. O disco tem um Punk Rock puro (portanto, cru e direto), e o descontentamento do trio criativo da banda (Joe, Mick e Paul) com a situação é muito bem expressado, seja pelas ótimas letras ou pelas composições marcantes. O The Clash seguiria essa estilo no 2º disco (Give’em Enough Rope, 1978), mas mudanças no som viriam no lendário London Calling (aguarde uma resenha sobre ele!). É interessante saber que há duas versões distintas do álbum de estréia da banda: a inglesa e a americana. A diferença fica pelo fato de que a dos EUA incluiu os singles da banda lançados até aquele momento (como "I Fought The Law") e tirou as músicas “menos acessíveis” (para não dizer mais sujas). Mas ambas as edições são boas; a da Inglaterra, por ser um registro mais honesto do Clash, e a estadunidense por incluir músicas muito boas que não estavam no original.
Se quiser conhecer uma das mais influentes bandas de Rock da história nas suas origens, ouça as faixas desse disco e comprove o porquê de tanto culto ao The Clash.

- Ouça Janie Jones: é só clicar aqui para baixá-la pelo Rapidshare! (Qualidade: 192 kbits por segundo)
Obs.: No Rapidshare, você só pode fazer um download a cada 6o minutos. A não ser que você descubra algum login e senha da versão Premium, hehe... (se alguém conseguir, POR FAVOR, ME PASSE!)

A banda: Joe Strummer (vocal, guitarra), Mick Jones (vocal, guitarra), Paul Simonon (baixo) e Terry Chimes (bateria). Topper Headon tocou bateria em algumas faixas.

Cotação: 9/10

21 julho 2005

We all live in the Yellow Submarine...

Resenhas de discos

REVOLVER (THE BEATLES)

Em 1966, os Beatles resolveram abandonar o ié-ié-ié e provar que sabiam fazer música de verdade. E a mudança não foi só sonora, mas também de comportamento. John Lennon declarou que eles eram maiores que Jesus Cristo (eu desconfio que ele foi mal-interpretado). Um dos Lps americanos, o “Yesterday and Today”, teve uma capa com os quatro vestidos de açougueiros e segurando bonecos decapitados e ensangüentados (que foi obviamente censurada) . Além disso, o quarteto de Liverpool parou da fazer shows para se concentrar nos estúdios. As experiências com drogas também aumentaram, e foram decisivas para a radical transformação do conjunto.
O sétimo álbum do Fab-Four foi lançado em agosto daquele ano, pouco depois do sensacional Pet Sounds, dos Beach Boys, um disco que revolucionou a música. Contudo, Revolver está à altura dele, e é tão inovador quanto. Os Beatles já haviam tentado novas sonoridades em Help! e Rubber Soul, mas desta vez, não foram moderados no experimentalismo, e o resultado foi excepcional.
O disco é aberto por “Taxman”, uma incrível composição de George, com uma letra que criticava os altos impostos britânicos. Em seguida, “Eleanor Rigby” veio inovar com uma orquestra que acompanhava a voz solo de Paul McCartney. A música é bela e triste. Lennon surge com “I’m Only Sleeping”, com um som distorcido e uma maneira do autor pedir que o deixassem em paz. A quarta faixa é “Love me to”, uma canção indiana de Harrison, quase que uma preparação para a “Within You, Without You” do Sgt. Pepper’s. “Here, There And Everywhere” é uma típica balada de Paul, mas é mais evoluída que as anteriores dele. Após ela, temos “Yellow Submarine”, numa grande performance vocal de Ringo Starr e uma melodia contagiante e psicodélica. Talvez a melhor de Revolver. O lado A do LP é fechado por “She Said She Said”. Destaque para as referências às experiências com drogas de John, a guitarra do mesmo e o surpreendente desempenho de Ringo na bateria.
“Good Day Sunshine” é uma simpática música de Paul, que antecede a sincronia no vocal e na guitarra de “And Your Bird Can Sing”. “For No One” é uma canção romântica, e talvez seja uma referência a Janie Asher, namorada de Paul na época. “Doctor Robert” fala sobre um médico que a banda conheceu, e que supostamente forneceu LSD para eles. “I Want To Tell You” é uma despretensiosa composição do “Beatle quieto”. Na reta final, o álbum chega ao ápice com “Got to Get You Into My Life” (que conta com uma melodia contagiante e faz uma alusão implícita à maconha) e “Tomorrow Never Knows” (outro destaque do disco, com John recitando trechos do Livro Tibetano dos Mortos, em meio a um experimentalismo profundo, indo de voz distorcida a melodia arrepiante; além disso, Ringo prova definitivamente que não era um baterista meia-boca).
Após esse texto enorme, eu duvido que você deixe de ouvir Revolver. O álbum revolucionou a música mundial, e foi o ponto de partida para os trabalhos mais ousados do quarteto, como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Isso sem falar que é um dos melhores discos de todos os tempos, e está em qualquer lista (e geralmente, nas primeiras posições) que se considere de respeito. Ouça ele e descubra porque os quatro cabeludos ainda são a maior banda de Rock que já existiu.

A banda: John Lennon (vocal, guitarra), Paul McCartney (vocal, baixo), George Harrison (guitarra, vocal) e Ringo Starr (bateria).

Cotação: 10/10

20 julho 2005

Olha o sopro do dragão...

Resenhas de discos

V (LEGIÃO URBANA)

Toda banda que se preze tem o seu disco perfeito, a sua obra-prima. Sim, me refiro aos álbuns que conseguem prender o ouvinte durante toda a audição, aqueles que não tem hits, pois todas as músicas são bem acima da média. Me parece que esse é o caso do V. Ele é uma contradição ao período entre o finalzinho dos anos 80 e o início dos 90 para o Rock nacional, que passou por uma fase negra, e, entre outros fatos, teve o fim do RPM, a morte de Cazuza e a ascensão de estilos musicais como a lambada e o axé.
A Legião vinha de quatro discos bem-sucedidos, que trouxeram hits como "Será", "Faroeste Caboclo", "Pais e Filhos" e "Tempo Perdido" e o reconhecimento nacional. O trio (que era quarteto até 88, com a saída de Renato Rocha) tinha pouca técnica, mas suas melodias e letras garantiam aos seus trabalhos um alto nível.
O quadro de saúde de Renato Russo era sofrível, e o país estava em plena Era Collor, com direito a confisco de poupança e tudo mais. O conjunto lançou em Dezembro de 1991 o álbum V. A crítica massacrou o disco, taxando-o de melancólico e pouco criativo. O público gostou, mas a perplexidade foi clara, afinal, com a exceção de "O Teatro De Vampiros" e "Vento No Litoral", nenhuma música emplacou.
V tem quase 50 minutos de duração e 10 faixas. Pode parecer pouco, mas não é. Começamos pela faixa 1, "Love Song". Ela cumpre perfeitamente o papel de música de abertura. A sonoridade surpreende com um clima trovadoresco. Mas isso era pouco perto do que estaria por vir - "Metal Contra As Nuvens". 11 minutos e 29 segundos de duração - uma eternidade. Ainda assim, é a obra-prima da Legião, um Rock progressivo para inglês ver. A melodia é incrível, e a letra é impecável. A canção é uma viagem medieval no início, transforma-se em contestação política e agressividade no meio e tem versos esperançosos no fim. Muitos devem se lembrar de que há uma versão desplugada dela no Acústico Mtv. Apesar de não ser melhor que a original, a versão acústica é excelente e também imperdível.
"A Ordem Dos Templários" é instrumental; essa faixa tem uma ambientação soturna muito boa. "A Montanha Mágica" é uma música fenomenal, outro ponto alto do disco. A letra é lisérgica, com referências claras às drogas e uma sonoridade bem psicodélica. São quase oito minutos de deixar qualquer um impressionado. A calmaria vem com "O Teatro Dos Vampiros", mas nem tanto - a letra é politizada, e é considerada por muitos um retrato fiel do governo de Fernando Collor de Mello. A poesia e o bom ritmo de "Sereníssima" provam que a Legião Urbana soube segurar a barra no Lado B de V.
"Vento No Litoral" é melancólica e triste, e cumpre o papel de balada romântica, bem ao estilo de Renato Russo. "O Mundo Anda Complicado" é despretensiosa e otimista, contrastando com o resto do disco, mas nem por isso sendo de qualidade inferior. "L'âge D'or" é um Rock pesado, com versos bem agressivos, como "
Já tentei muitas coisas, de heroína a Jesus", e o último suspiro de Rock progressivo no disco, pois logo em seguida, o trabalho seria encerrado com chave de ouro com "Come Share My Life". Ela é instrumental e curta (2 minutos), e tem um clima meio fúnebre, que, contudo, é perfeito para encerrar um disco de peso como esse.
Depois de tudo isso, fica bem claro que V é o melhor álbum da Legião Urbana, doa a quem doer. É a prova de que Bonfá, Dado e Russo não precisavam de músicas simpáticas como "Eduardo E Mônica" para provarem que eram uma das mais respeitáveis bandas de Rock da história do Brasil. Em 1991, desbancaram os Titãs do topo, e só sairiam dele quando Renato faleceu, em Outubro de 96. Mas o legado da Legião durou até depois da morte de seu líder; tanto que a banda continua prestigiada até hoje. Faça um favor a si mesmo e ouça esse disco.

A banda: Renato Russo (vocal, teclados, violão), Dado Villa-Lobos (guitarra, violão) e Marcelo Bonfá (bateria, percussão).

Cotação: 9/10

Dancing days are here again...

Resenhas de discos

HOUSES OF THE HOLY (LED ZEPPELIN)

O Led Zeppelin é uma banda que dispensa apresentações, afinal, influenciou gerações e gerações de rockeiros, vendeu milhões de discos e muito mais. Apesar dos trabalhos da banda terem sido tratados com desprezo pela crítica da época (fato ignorado pelo público, que sempre garantiu ao Led recordes e mais recordes de vendagens), há vários deles que são excelentes. Um deles é Houses of The Holy.
O disco não é unanimidade para público e crítica. Muitos alegam que falta uma direção musical, que a banda traiu as suas raízes e “viajou” demais. Mas não dê atenção a esses comentários, são apenas puristas e caretas. Houses of The Holy é a obra-prima do conjunto. As faixas falam por elas mesmas. “The song remains the same” é, talvez, a canção ideal para abrir um disco: pulsante, com incríveis solos de guitarra e uma letra quase que autobiográfica. “The rain song” é uma longa e bela música, ideal para embalar corações apaixonados. “Over the hills and far away” é a primeira das surpresas do álbum aos fãs da banda da época (e até os de hoje), por ser um bem animado Soul. A 4ª canção é mais uma que torce o nariz dos ouvintes desatentos: “The crunge” é um Funk! A canção é bem estilosa, mas desagradará os "roqueiros xiitas".
O lado B do LP (ou a faixa cinco do CD) é aberto por “Dancing days”. Misturando Rock com Pop/Dance, esse tema é vibrante, tem uma ótima letra e melodia sensacional. Na minha opinião, a melhor das melhores canções do Led Zeppelin. Calma que o disco tem mais! “D’yer Mak’er” é (mais) um tapa na cara dos puristas: ela é nada mais, nada menos que um Reggae! Isso mesmo, Led com influências jamaicanas! A canção fez sucesso, e eu duvido que você nunca a ouviu. A penúltima do Houses of the Holy é a psicodélica e soturna “No quarter”, prova da genialidade de J. P. Jones. E, fechando a obra-prima, “The ocean”, um Funk Rock animado.
Mas tenha cuidado: se você ainda não conhece o Led Zeppelin, é melhor começar pelos quatro primeiros álbuns deles, e hits como “Stairway to heaven”, “Black dog” e “Whole lotta love”. Quando você realmente curtir essa grande banda, tente Houses of The Holy. O disco é de difícil compreensão para alguns, mas quem o decifra descobre nele o auge desse incrível conjunto que marcou o Rock mundial.

A banda: Jimmy Page (guitarra), Robert Plant (vocal), John Paul Jones (baixo, teclados) e John Bonham (bateria).

Cotação: 9,5/10

Take me out!

Resenhas de discos

FRANZ FERDINAND (FRANZ FERDINAND)

Em meio à mesmice das bandas de pseudo-rock, que priorizam o aspecto comercial e a atitude em detrimento do talento e da originalidade, surge um conjunto escocês, que já fazia sucesso entre as garotas locais e os roqueiros alternativos do país dos homens de saia. Seu nome remete ao arquiduque Francisco Ferdinando (aquele cujo assassinato foi decisivo para estourar a I Guerra Mundial), e seu som é inspirado, principalmente, em David Bowie e Joy Division.
O Franz Ferdinand é uma banda indie pop, e as músicas fluem facilmente e são perfeitas para pistas de dança. Prova disso é o hit mundial "Take me out". Entre as outras dez faixas destacam-se: a primeira, "Jacqueline", que muda radicalmente aos 43 segundos, indo de uma calma balada a um Rock pulsante. "The dark of the matinée" é a minha favorita, e conta com um ritmo bem interessante. Já "This fire" é bem grudenda, e o riff de guitarra é bem bacana. "Darts of pleasure" é bem-feita, e na reta final, ganha grande vigor, que, metaforicamente falando, seria o clímax do álbum. Enquanto "Tell her tonight" é despretensiosa e sonoramente coesa, "Michael" tem uma letra dúbia que pode levantar dúvidas sobre a sexualidade dos integrantes.
Se você duvida do marketing em torno da banda, ouça o disco. Garanto que Franz Ferdinand vai agradar em cheio aqueles que buscam um álbum que não saia do CD player por um bom tempo. E aguarde: em outubro, chega às lojas o segundo disco deles.

A banda: Alex Kapranos (guitarra, vocal), Nick McCarthy (guitarra, teclados), Bob Hardy (baixo) e Paul Thompson (bateria).

Cotação: 9/10